Blog do Roberto Kenard
Sarney cometeu mais um artigo no jornal da família Sarney neste domingo. Eu já esperava que o assunto fosse o brilhante trabalho da polícia de desvendar o assassinato do jornalista e blogueiro Décio Sá.
Sarney diz que muitas vezes foi injusto com o secretário Aluísio Mendes, do qual cobrava resultados das investigações quase diariamente. Nem quero entrar na discussão de que a cobrança tenha sido por conta do morto ou dos estragos políticos que o não avanço das investigações vinha causando a um governo já em baixa sob todos os aspectos. Quero ir por outros caminhos.
Por exemplo: quando cobrado, segundo Sarney, o secretário de Segurança Aluísio Mendes respondia:
“Estamos desenvolvendo um trabalho altamente profissional, científico em torno de um crime complexo, de encomenda, feito por profissional, vamos alcançá-lo”.
Bom, ainda estou à procura desse profissionalismo e desse lado científico da investigação. Além do mais, até detetives particulares de décima categoria de filme policial tipo C sabiam que não se tratava de “crime complexo”. Na apresentação do bando, procuraram dar a esses bandidos covardes uma inteligência e uma perspicácia que eles nunca tiveram. Era a polícia valorizando o próprio passe, como se diz.
A morte de Décio Sá foi um crime brutal, por isso cheio de falhas e de pistas. No assassinato brutal não foram vistos sutilezas e comando organizado. Muito pelo contrário. Ou um sujeito que entra de cara limpa num bar localizado em área de intensa movimentação, mata um jornalista conhecidíssimo, foge numa moto e depois segue caminhando da Avenida Litorânea até a Curva do 90, sem camisa e armado, é um profissional de grande sagacidade?
Uma semana após o crime, eu e outro jornalista sentamos para conversar a respeito das investigações. Mesmo com fontes distintas, as nossas informações nos levavam a uma linha de investigação: agiotas. Como já disse aqui, tanto eu como ele não publicamos nada para não atrapalhar as investigações. Mas, além de nós dois, sabia de vários outros jornalistas que pensavam a mesma coisa. Por que a polícia não haveria de seguir pelo mesmo caminho, eles que são treinados para investigar?
De posse da informação de que Jhonatan, o assassino, após esse inacreditável périplo, tomou um táxi, por que até agora a polícia não tratou de descobrir quem foi o taxista, para pelo menos confirmar a confissão de Jhonatan?
Que profissionalismo e cientificidade são esses que, após um mês interrogando Valdênio José da Silva, deixaram-no ir embora para ser assassinado em casa?
Que profissionalismo e cientificidade são esses que levaram à prisão do capitão PM Fábio Saraiva com o argumento de que há fortes indícios e que isso será resolvido na Justiça? Reparem: ninguém está pondo em dúvida a participação do militar. O que se pede são os dados profissionais e científicos da investigação que levaram a incluí-lo como participante e fornecedor da arma. Afinal estamos numa democracia e não nos julgamentos sumários do comunismo.
Sarney também elogia o retrato falado, que, segundo ele, foi distribuído a todas as polícias do país e teve papel importante na captura do bando. Bem, aqui há uma porção grande de exagero, para não dizer coisa pior. Vejamos.
Como hoje a tecnologia nos permite, desafio qualquer um a fazer a montagem da cabeleira do retrato falado com a foto do Jhonatan real. Se ficarem parecidos, como se dizia antigamente, mudo de nome. Além do mais, Sarney está vendendo um peixe sem qualidade. Digo até que estragado. O retrato falado em nada ajudou na captura do assassino e dos envolvidos no mando do assassinato de Décio. Jhonatan foi preso por causa do retrato falado? Não! Sem falar que retrato falado precisa chegar ao conhecimento da população.
Por fim, questionei o seguinte: Miranda (pai), Gláucio (filho) e Bolinha (outro envolvido) eram figuras desconhecidas? Ninguém no Maranhão sabia das atividades do trio? Eu nunca tinha ouvido falar dos três até o assassinato, mas todos eles não só eram conhecidos como todos sabiam das atividades criminosas deles. Num post levantei o seguinte (o leitor pode rever aqui): envolvidos na morte de Décio Sá cometiam crimes abertamente, portanto, só podem ter comparsas e protetores de alguma relevância. Até aqui ninguém tem notícia desses protetores ou comparsas relevantes.
Portanto, o artigo de Sarney deste domingo não passa da politização de um crime lamentável sob todos os aspectos. Tão politizado quanto a divulgação das lágrimas providencialmente fotografadas e divulgadas do mesmo Sarney à beira do túmulo de seu ex-funcionário (reveja clicando aqui em A emoção que não vive sem um fotógrafo