O “padrão Fifa” chegou

Por Fernando Brito no TIJOLAÇO

Jair Bolsonaro escreveu no Twitter que jamais imaginaríamos “uma manifestação expressiva a favor de reformas consideradas impopulares”.

Não mesmo, em condições normais.

Leva tempo até que as pessoas cheguem, por ódio, por louvor da estupidez, defenderem o que é ruim para elas mesmas.

É preciso reunir muito recalque, é preciso criar culpados acessíveis, destes que não têm poder para defender-se e, ainda assim, tirarem-lhe as poucas defesas que possam ter.

É preciso encontrar heróis antiheróis que não salvam, mas punem; que não erguem, destróem; que tranformem a exceção da pena na regra da prisão.

É preciso inverter a máxima de culpa dispensa ser provada, pois a inocência não pode existir no outro, apenas em nós mesmos ou na nossa turma.

Fiszemos uma longa caminhada até o dia de ontem, quando uma turba furiosa arrancou a faixa onde se lia “em defesa da educação”.

Ali se poderia ler “em defesa da civilização”, “em defesa da humanidade”, “em defesa da razão” e seria arrancada do mesmo jeito, por “crime ideológico”.

Não precisamos  de nada disso, afinal.

Precisamos da eficiência que nos dizem como deve ser: não é preciso aprender, não é preciso pensar, não é preciso conviver.

Progresso é bom comportamento, ciência é Fé e inteligência é obedecer.

Criou-se um passado inexistente, o da ditadura honrada, que “não roubava”, enquanto o país era roubado, e que “dava segurança”, em meio a prisões, sequestros, torturas e assassinatos.

Foi sendo invertida a direção dos nossos desejos, de modo que o futuro passou a significar andar para trás.

Trocado o sinal, nada mais natural de que os “de bem” sejam maus, para que os brutos é que mereçam o amor, para que a arma seja o símbolo da vida, para que virtuoso seja o vício do fútil, do caro e do eu.

O resto fica por conta da “tecnologia”, que substitui magicamente não apenas o saber humano como seu prórpio julgamento. Afinal, tudo é medido pelo número de “likes”, de “memes”, de “curtidas”. Viralizar, que vem de vírus e deveria significar doença, passou a ser a medida da inteligência, do talento e da adequação de cada pessoa ao mundo.

Cinco, seis anos depois, o “padrão Fifa” está aí: fazemos o que mandam, como mandam, para que tudo fique exatamente como querem que fique e não como queríamos – e já nem queremos mais? – que fosse.

As escolas que deveriam ser perfeitas, aniquilem-se; os hospitais que deveriam ser o céu, destruam-nos; as casas que deveriam ser boas e para todos que precisassem de uma, que se arruinem em obras paradas.

Arrancarem a faixa “em defesa da educação” é apenas uma chocante alegoria do que deixamos arrancarem de nossas vidas e de nosso país.

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