Jogadoras relatam ironia do juiz antes de desidratação coletiva; jogo acabou 10-0

Jogadoras do Viana-MA alegam com juiz que não tinham mais condição de jogo, mas atletas contam que árbitro disse que partida não seria paralisada (Foto: André Leal)

Jogadoras do Viana-MA alegam com juiz que não tinham mais condição de jogo, mas atletas contam que árbitro disse que partida não seria paralisada (Foto: André Leal)

Dificilmente um placar de 10 a 0 passaria despercebido, mas no futebol tudo é possível de acontecer. Na partida que encerrou a quinta rodada da primeira fase do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, entre Tiradentes-PI e Viana-MA, uma desidratação coletiva do elenco maranhense foi o destaque negativo. Cinco jogadoras saíram direto do gramado do estádio Albertão, em Teresina, para o Hospital de Urgência da cidade (HUT). A alta temperatura na hora do confronto, às 15h, já havia sido alvo de reclamação das atletas do Viana-MA, que solicitaram à arbitragem a interrupção do jogo. Porém, de acordo com o relato das jogadoras, o pedido não foi bem recebido pelo juiz Antônio Trindade, que teria reagido com ironia a solicitação, dizendo que a “desistência ficaria feio” para as maranhenses. O episódio gerou revolta na comissão técnica do Viana-MA.

– A justificativa dele (o árbitro) é que ia ficar feio para gente. Mas eu acho que não, foi desonesto da parte deles (arbitragem) de fazer isso com a gente. Estávamos pedindo, sabíamos da nossa condição, não tínhamos mais condições… E o que eles alegaram foi isso, ouvimos ‘que vai ficar feio’, que eles não poderiam colocar na súmula como desistência. O calor que fez isso – relatou Sabrina, que passou mal, porém, não teve necessidade de ser conduzida ao hospital.

O Hospital de Urgência de Teresina (HUT) registrou a entrada de cinco jogadoras do Viana-MA com o quadro de desidratação. Todas elas tiveram alta no fim do dia. Após a partida – encerrada aos 36 minutos do segundo tempo depois de o clube ficar com apenas seis atletas em campo – até a diretora do time passou mal e foi carregada nos braços até ônibus da delegação, passando a noite no soro.

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– Todo momento foi complicado, não é fácil ver uma companheira passando mal e ter de continuar a partida. Na verdade não foi uma, ao mesmo tempo foram várias, e é bem difícil olharmos a nossa companheira nessa situação. Pedimos para a arbitragem terminar o jogo, tomar alguma providência, relatar alguma coisa, mas eles insistiam em continuar a partida, sendo que nenhuma das atletas tinha mais condições – completou a jogadora. Veja no vídeo abaixo.

A primeira jogadora caiu em campo aos oito minutos do primeiro tempo, exato momento em que a ambulância chegou ao estádio Albertão. Outro ponto reclamado pela equipe maranhense. Sabrina relatou as condições de jogo, e criticou a forma como o futebol feminino é vista no país.

– Na verdade ficou um pouco difícil o horário. Nem os meninos jogam nesse horário, somos mulheres e fomos desfavorecidas com relação a esse horário, é uma temperatura bem quente e isso dificulta uma pouco para gente – afirmou.

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“Nada houve de anormal”, relata árbitro

Antônio Trindade foi o árbitro da partida, auxiliado por Rogério Braga e Thyago Costa, todos pertencentes ao quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol. Na súmula de Tiradentes-PI x Viana-MA, publicada no site da CBF, o juiz narrou que a partida foi encerrada antes do tempo regulamentar por insuficiência de atletas.

– Informo que aos 38 minutos do segundo a partida foi paralisada para atendimento da atleta nº 09, Flavia Renata, da equipe do Esporte Clube Viana, quando a referida equipe estava apenas com sete jogadoras em campo. Após 10 minutos, fomos informados pelo médico que a referida atleta não tinha condições físicas de retornar ao campo de jogo, dando por encerrada a partida por número insuficiente de atletas – registrou, em súmula.

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O curioso é que o árbitro não menciona nada sobre as saídas das jogadoras por causa do calor, reclamação das jogadoras do Maranhão, e as paralisações registradas no primeiro e segundo tempo para atendimento médico. Antônio, breve ao descrever o que aconteceu em campo, colocou no tópico “Observações eventuais” do documento de jogo que “nada houve de anormal”, embora oito jogadoras tenham passado mal durante o jogo, além de um membro da diretoria do clube.

Fonte: GloboEsporte / Autor: Emanuele Madeira

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