Os pescadores da Ilha do Passeio

Destaque para um trio que só pesca a noite.

Vida de pescador não é vida fácil, que o diga um grupo de heróis pescadores que tiram o sustento de suas vidas nas águas do mar da Baia do Caju, nas proximidades da Ilha do Passeio distante de uma a quatro horas de barco, saindo do ancoradouro em Araioses, dependendo aí do tipo de embarcação.

Com a maré baixa a Ilha do Passeio se estende por vários quilômetros

Pude ver de perto durante os quatro dias do último carnaval – de 25 a 28 de fevereiro – como vivem aquela gente que passam a maior parte do tempo na Ilha do Passeio e o que fazem para sustentar suas famílias que moram, quase todas no povoado Carnaubeiras, distante 27 km de Araioses.

A Ilha do Passeio passa por um processo de “encolhimento” provocado pelo avanço do mar e hoje de maré cheia, seu território descoberto é muito pequeno, com uma área aproximada de pouco mais de dois campos de futebol. Já na maré baixa ela se prolonga por vários quilômetros.

Na Ilha tem 12 acampamentos de pescadores erguidos com madeira de mangue e cobertos com palha da carnaúba em condições de abrigar, em média, quatro pescadores cada um e mais três em processo de construção.

Durante o carnaval eu me hospedei no acampamento de Mario dos Santos Serejo, um pescador de 51 anos e morador de Carnaubeiras. Essa pequena convivência nos fez grandes amigos. Ao lado de seu barraco tem o de João Evangelista da Rocha – o João do Bote, 62 anos com residência fixa em Tutoia, que é bem maior e com mais estrutura, tendo até um quarto de hóspedes que é ocupado por Francisco Ivo da Silva, 48 anos também morador de Carnaubeiras.

João do Bote, Mario dos Santos e Ivo da Silva são pescadores de tainha – que em algumas regiões do País é conhecida como Parati – e só trabalham durante a noite pois segundo eles é a melhor hora para se fazer uma boa pescaria.

Mestre Mario cuidando de fazer o café da Manhã

João do Bote é o chefe da equipe e dono das redes e da pequena embarcação (rabeta) motorizada e vendem o produto de suas pescarias para um comprador de Carnaubeiras. Como os demais pescadores da ilha, eles chegam a ficar de três meses sem irem a suas casas e por conta disso, suas esposas são chamadas de viúvas de maridos vivos.

Dona Graça prepara a massa para fazer tapiocas com coco

Cada um deles tem muitas histórias para contar. Seu João do Bote, que começou a pescar com 11 anos de idade, antes de acampar na Ilha do Passeio morava na Ilha Grande de Santa Isabel/PI e pescava na Baia de Canárias, Araioses/MA. É casado com Maria Ester Assunção da Rocha e tem 6 filhos.

Mario dos Santos pesca desde os 12 anos e casado com Dona Maria das Graças Pereira Cerejo. Embora o casal tenha três filhos e mesmo tendo residência em Carnaubeiras, eles ficam a maior parte do tempo juntos na Ilha do Passeio.

Para Bernardo Júnior a pesca predatória é que está deixando o peixe cada vez mais difícil e longe

Mario já trabalhou pescando em vários lugares do Brasil como em Bragança de Belém/PA e em Arraial do Cabo/RJ. Recentemente teve que interromper a pescaria por vários dias quando teve que se curar dos efeitos da Chikungunya.

Ivo da Silva, o outro integrante do grupo pesca desde a idade de 15 anos e é casado com Silvina Oliveira Sotero e tem dos filhos. Sofreu em 2015 um acidente no olho esquerdo e por pouco não perde essa visão. Ficou de 8 de setembro a 8 de dezembro daquele ano com um objeto estranho no olho aguardo as condições para fazer uma cirurgia em Parnaíba/PI. Durante todo esse período, mesmo com muita dor e incômodo continuou pescando todos os dias.

Hora das gaivotas “tripeiras” fazer a festa com as vísceras dos peixes

Tantos os três, como os demais pescadores da Ilha lembram com saudade dos tempos que a pescaria era farta. Hoje a situação está cada vez mais difícil e tem mês que no ajuste de conta, o que sobra não dá nem para pagar as despesas, queixa-se Mario dos Santos.

Para Bernardo Martins de Carvalho Júnior, 42 anos, também de Carnaubeiras e que pesca na ilha desde os nove anos de idade, diz que a pesca predatória é que está deixando o peixe cada vez mais difícil, onde os pescadores estão tendo que ir cada vez mais longe de mar adentro em busca do pescado.

Barraco usado para armazenar peixes

Essa pesca predatória se dá por batedeiras e pescadores de camarão que nos arrastões levam de tudo, fazendo grandes estragos. Após essa prática criminosa eles levam o que querem e o restante deixam apodrecer na beira da praia.

Os órgãos de fiscalização ficam sediados em Parnaíba, muito distante dos locais de pesca e como é comum neste País trabalham sem condições de fiscalizar todo o Delta.

A região é de uma beleza rara, porém já sofre com os efeitos da poluição, que será assunto de outra postagem.

Nos períodos da muriçoca – pernilongos em outras regiões – a fumaça de uma madeira da praia espanta os insentos

Ivo prepara madeira de mangue para ser usado nos barracos

Não há água doce de qualidade na ilha mas a que exite é usada para outros fins domésticos

Quando a maré enche ela invade, por baixo, os barracos

Ivo é pescador de tainha, mas não dispença um bagre gordo

Não pesquei, mas matei minha vontade de comer peixe

Ivo da Silva, João do Bote, Mario dos Santos e Daby Santos – repórter

Alguns pescadores engordam porcos para variar o cardápio de vez em quando

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