Inflação, dívidas, falta de dólares: os desafios de Milei na Argentina

Sem maioria no Congresso, o ultradireitista recebe economia em recessão e inflação acima de 140%

Javier Milei, presidente eleito da Argentina. Foto: reprodução

Por Yurick Luz/DCM

O recém-eleito presidente, Javier Milei, assume o poder em meio a uma grave crise econômica na Argentina. O país enfrenta uma inflação acima de 140% em 12 meses, desvalorização da moeda, falta de reservas em dólar, endividamento e aumento da pobreza.

Durante sua campanha, o ultraliberal propôs soluções radicais, como a dolarização da economia e a extinção do Banco Central, visando resolver esses problemas. Embora não tenha mencionado essas medidas em seu discurso de vitória, enfatizou a necessidade de ações drásticas diante da crise, sem adotar uma abordagem gradualista.

No entanto, a implementação dessas ideias pode enfrentar obstáculos, uma vez que Milei não possui inicialmente um amplo apoio no Congresso argentino, o que pode dificultar a concretização de suas propostas.

Javier Milei comemora vitória na eleição presidencial argentina em Buenos Aires. (Imagem: Reprodução)

As propostas de dolarização e fechamento do Banco Central geraram preocupação nos mercados, evidenciada pela aversão dos investidores ao risco quando Milei obteve a maioria dos votos nas primárias, em agosto. Com o feriado nacional na segunda-feira (20) na Argentina, os impactos da eleição de Milei devem ser percebidos apenas na terça-feira (21).

Dolarização da Economia

Durante sua campanha, Javier Milei enfatizou a possibilidade de dolarizar a economia argentina, substituindo o peso argentino pelo dólar norte-americano como moeda oficial. No entanto, especialistas apontam que essa proposta enfrenta desafios práticos significativos.

“É uma ideia tão difícil de encontrar suporte em questões práticas que quem votou em Milei por essa questão, vai se decepcionar”, diz o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria. A informação foi divulgada pelo G1.

O processo de dolarização exigiria cooperação da Casa da Moeda dos Estados Unidos para a importação de dólares. Além disso, a Argentina se tornaria dependente das decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.

Javier Milei, presidente eleito da Argentina. Foto: reprodução

A falta de reservas internacionais, diminuídas devido às dívidas externas do país e às tentativas de controle do câmbio pelo Banco Central argentino, limitaria o acesso da população ao dólar. Isso tem levado as famílias argentinas a guardar a moeda norte-americana, tornando-a escassa no país e resultando em múltiplas cotações do dólar além do câmbio oficial.

Extinção do Banco Central

Outra proposta de Milei é a extinção do Banco Central da República Argentina (BCRA), o que ocorreria como resultado da dolarização. Isso implicaria na perda de soberania monetária do país e na interrupção da gestão dos juros básicos pela instituição.

“Isso faria o país começar a operar em outra chave. Abandonaria a questão dos juros e do câmbio, e seria uma economia que operaria simplesmente no seu nível de gasto fiscal. Ou seja, o juro da Argentina seria praticamente o juro dos Estados Unidos e [o governo] tentaria fazer com que a inflação do país caminhasse rumo à norte-americana”, explica Alexandre Pires, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de São Paulo (Ibmec-SP)

Saída do Mercosul e Relações Internacionais

Milei também mencionou a possibilidade de retirada da Argentina do Mercosul e a redução das relações com Brasil e China durante sua campanha. No entanto, especialistas alertam para as dificuldades de implementação dessas propostas no Congresso e os possíveis impactos na economia do país.

“É uma decisão que pode trazer consequências muito piores para a Argentina. Isso poderia limitar ainda mais o crescimento, por exemplo, o que agravaria os problemas de inflação e traria um aumento do desemprego”, afirma Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM.

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