Por Fernando Brito, editor do TIJOLAÇO
Sonhar não custa nada e, portanto, vai aqui um sonho que, como você verá, nada tem de absurdo e, antes, seria a postura mais inteligente que todos os candidatos deveriam adotar: deixar evidente no debate de hoje na Bandeirantes que repelem a atitude de um homem que preside um país com milhões de pessoas famintas, ou se alimentando de doações, ou comprando alimento de qualidade inferior para que suas famílias comerem é algo tão absurdo que, antes e acima de quaisquer diferenças políticas, ideológicas e mesmo programáticas.
Seria absurdo que mostrassem, em bloco, que não cabe na disputa política quem manifesta indiferença à vida e ao sofrimento humano como Jair Bolsonaro faz, repetidamente, desde negar o que está evidente em qualquer calçada das cidades até imitar gente que sufoca aos milhares durante a pandemia e que debocha de uma montanha de cadáveres? Não é difícil, menos ainda impossível, que pessoas diferentes politicamente se alinhem para dizer que não aceitam o extermínio em massa, seja pela doença, seja pela fome, e que ameaça e chantageia com o respeito às escolhas eleitorais da maioria dos brasileiros.
Uma ação coletiva que provocasse impacto sobre a candidatura Bolsonaro, que lhe tirasse 5 ou 10 pontos nas pesquisas, não reabriria o caminho para quem tem 7 ou 4% e está condenado a não sair daí ou até minguar diante da perspectiva de voto útil em Lula, que se apresenta como único capaz de vencê-lo, neste momento?
Mas, como disse, isso é apenas sonho, porque a maior parte da direita brasileira continua aferrada à ideia de que democracia não passa de um monopólio do poder pelos conservadores. Mesmo que para mantê-lo seja perpetuado um fascista, desumano e alguém que debocha do sofrimento dos brasileiros.
Se a elite brasileira tivesse sonhos, não precisaríamos ter de enfrentar um pesadelo.