Dos tempos da ancoreta ao sistema atual de abastecimento d’ água

Vereador Júlio César

No final da década de 50 – ainda criança – me vem na lembrança às vezes que chegava à casa de meus avós em Várzea dos Batistas – povoado da zona rural de Araioses – e por não encontrar minha avó perguntava por ela.

Como resposta eu era informado de que ela havia ido buscar água em uma cacimba no povoado Paramirim, já nas proximidades da comunidade Zumbi.

Era um trajeto de pouco mais de 4 km que ela fazia com seu jumentinho (pensem num animal trabalhador!) que portando um par de ancoretas levava o precioso líquido para as serventias da casa. Essa tarefa era reduzida durante o inverno, já que todas as águas das chuvas eram aproveitadas.

Próximo de sua casa havia uma cacimba, porém nessa a água não era de qualidade e a fonte secava no verão.

Abastecimento de água em ancoretas – Reprodução

Na sessão da Câmara ontem (25) ao fazer uso da palavra o vereador Júlio César – que tem sua base eleitoral no povoado Água Fria – se queixava da demora que a prefeitura levara para resolver a interrupção do abastecimento de água naquela comunidade devido à quebra da bomba do poço, que segundo ele demorou nove dias e que no seu entender era tempo demais.

Júlio César ainda agradeceu o empenho do presidente da Câmara, vereador Luís Fernando Marão Felix – o Luisão e lembrou que a conquista de o sistema de abastecimento de água para Água Fria teve muito a ver com seu empenho no sentido de viabilizá-lo.

Quem me conhece sabe que não sou homem de passar a mão na cabeça de ninguém e em muitas das vezes digo o que certas pessoas não gostem de ouvir, mesmo merecendo.

Sobre esses sistemas de abastecimento de água, tenho há muito opinião formada sobre o tema.

Por mim, o gestor ou gestora implantava o sistema de abastecimento de água na comunidade e entregava a quem a representasse, toda a responsabilidade de manutenção dali em diante.

O povo daquela comunidade é que tinha o dever de cuidar da bomba e demais equipamentos. Qualquer problema eles se cotizavam para custear as despesas dos concertos.

Agindo assim, eles passariam a ter zelo por aquela estrutura e o prefeito ou a prefeita cuidaria de proporcionar a outras comunidades o sistema de abastecimento que essas ainda não tinham.

Sei que por esse sistema, além da manutenção até pessoas como cuidador e vigiar é a prefeitura que tem que bancar tarefa essa que para uma prefeitura – quebrada como está a nossa – não é fácil de resolver e as demoras acabam sendo creditadas na conta de suposta falta de vontade de quem dirige o município.

Sou contra esses paternalismos. O povo precisa entender que um bem público é de todos e todos tem a responsabilidade de cuidar por ele.

O vereador está certo e no direito de cobrar da prefeita a manutenção do serviço de abastecimento de água, não só na comunidade que ele representa como nas outras com semelhantes problemas. Porém, já é hora da divisão de responsabilidades e do cuidado também.

Eu sei e muitos sabem dos abusos que acontecem nesses sistemas como, por exemplo, o indevido uso dessas águas para irrigação ou outros usos, que não o de matar a sede das pessoas, na produção de alimentos e de limpeza.

Quem viveu em tempos das dificuldades do abastecimento de água em ancoretas conduzida em costas de jumentos, sabe o que tudo isso significa.

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