O vereador por São Paulo, Gilberto Natalini, afirma que Ustra “torturava jovens e velhos, mulheres e homens, crianças. Até matar. Ele e os paus-mandados dele. A equipe era toda de monstros. E ele ria, debochava, tirava sarro, numa boa”
Gilberto Natalini, de 67 anos, vereador em São Paulo pelo PV, foi torturado por Carlos Alberto Brilhante Ustra, na década de 70. Na quinta-feira (8), dia em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) recebeu no Palácio do Planalto Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, viúva do torturador, Natalini foi ao Twitter e escreveu “Bolsonaro insiste em defender e alardear a tortura. A tortura é o ato mais abjeto de um ser humano sobre o outro”.
Ganhou mil novos seguidores em menos de seis horas. “Uma pessoa falou que deviam ter me matado, que eu apanhei pouco”, afirma à Folha o vereador, que teve a chance de confrontar pessoalmente Ustra em 2013, em sessão da Comissão Nacional da Verdade. Chamado de terrorista na ocasião, Natalini gritou de volta: “Terrorista é você!”.
Neste domingo (11), a Folha publicou um longo e impressionante depoimento de Natalinisobre as torturas que sofreu de Ustra.
Veja abaixo trechos do depoimento de Natalini:
Eu fui torturado pela mão dele e da equipe dele, várias vezes. Colocavam duas latas de Neston [de alumínio], me faziam subir nelas, molhavam meu corpo com água e sal, ligavam fios em toda parte e disparavam os choques.
Era a noite toda: choque elétrico e paulada nas costas, com uma vara de cipó, que o Ustra usava para me chicotear.
Estou descrevendo uma das formas que eles adotavam, mas não me peça para narrar todas, porque é muito doído para mim. A tortura pesada durou mais ou menos um mês.
Choque nos ouvidos era todo dia. Sou deficiente nos meus ouvidos, de choque elétrico que o Ustra me deu. Fiquei com sequelas permanentes. Perdi 60% da capacidade de ouvir na orelha direita e 40% na esquerda.
Você não faz ideia do que é o choque no ouvido. Quando eles ligam a corrente elétrica, você grita. E, quando você grita, surge uma faísca que pula de um lado da boca para o outro. Isso queima toda a sua mucosa bucal. Descasca. Fica em carne viva.
É impossível você não gritar, porque não consegue suportar. Todo mundo grita na dor.
O Ustra era o nosso terror, porque coordenava tudo. Quem vai esquecer uma cara daquela? Aquilo é a própria cara da bestialidade, da monstruosidade.
Ele torturava jovens e velhos, mulheres e homens, crianças. Até matar. Ele e os paus-mandados dele. A equipe era toda de monstros. E ele ria, debochava, tirava sarro, numa boa.
Eu combatia a ditadura, mas não fazia parte de nenhum grupo ou movimento; era independente. Nunca participei de luta armada.
E você vê o presidente do Brasil, que foi eleito, defender torturador. Pelo amor de Deus! Incentiva a tortura, embora ela nunca tenha deixado de existir no Brasil, nas delegacias, no crime. O PCC, por exemplo, põe a pessoa dentro de pneus, bota gasolina e taca fogo. A tortura não morreu como método.
Quem defende tortura ou é louco degenerado ou não pertence mais à espécie humana. O Ustra é um ser que saiu da raça humana, é um monstro. O que eu posso falar de um monstro? Vamos dizer assim: se tiver capeta, é o primo do capeta.
Eu não tenho raiva do Bolsonaro, eu tenho pena do Bolsonaro. Eu tenho muita pena desse ser menor que chegou à Presidência do Brasil.