Mais antigo jornalista político do país morreu na noite desta quinta-feira (15)
Um patrimônio do jornalismo brasileiro, Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa, morreu na noite desta quinta-feira (15) por decorrência de um ataque cardíaco. Com problemas respiratórios, ele estava internado havia uma semana no Hospital São Lucas, em Copacabana, no Rio. As informações foram confirmadas pela assessoria de imprensa do hospital.
Falecido aos 93 anos, Villas Bôas era viúvo e deixou três filhos, três netos e três bisnetos. O mais antigo jornalista político do Brasil será cremado, mas ainda não há informações sobre o dia.
Villas-Bôas Corrêa nasceu em 2 de dezembro de 1923, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Quando garoto, na década de 30, o jovem Luiz Antonio frequentava assiduamente o teatro com o avô, Luiz de Castro Villas-Bôas. Era apaixonado pelo teatro de revista, e por atores como Procópio Ferreira e Conchita de Morais. Mas Villas-Bôas não almejava os palcos.
Mesmo assim, o grande jornalista do JB sempre usou o teatro como metáfora na profissão em que ele se tornaria uma lenda posteriormente. “A política hoje é uma encenação de política”, proclamou na época de comemoração de seus ininterruptos 30 anos no jornal, em 2008. “As sessões do Congresso não apresentam mais discussões de idéias, são mais argumentações de assuntos práticos banais, de aumentos de salário de funcionalismo a compra de material de escritório.”
Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa foi o mais antigo jornalista político do Brasil
Ainda na faculdade, Villas-Bôas já se destacava. Foi presidente do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (Caco), que teve intensa participação nos momentos fundamentais da história política brasileira. Se casou com dona Regina Maria em 1946, no quarto ano da faculdade. O homem que se tornaria praticamente o inventor do jornalismo político do Brasil, se formou em Direito, na Escola Nacional de Direito, no Centro do Rio, em 1947.
Quando começou sua carreira no jornal A Notícia, no mesmo ano, o fez para completar sua renda, no nascimento do segundo filho. Até então, Villas-Bôas era um servidor público concursado.
Seu sogro, Bittencourt de Sá, o encaminhou para o trabalho no A Notícia. O curso de jornalismo de Villas-Bôas durou cinco minutos, aprendendo a usar a máquina de escrever. A profissão seria aprendida na rua, onde ele passava o dia procurando os fatos dos mais prosaicos para publicar no jornal em forma de notas.
Posteriormente, passou pelo Diário de Notícias, Rádio Nacional e Rede Manchete, onde ficou até o fechamento da emissora, em 1999. Por 23 anos, o jornalista também trabalhou na sucursal carioca do jornal O Estado de S. Paulo, primeiro como chefe do caderno de política e, eventualmente, como diretor da sucursal. Ele se aposentou em 1978, no jornal O Dia. Sua aposentadoria não impediria que ele trabalhasse no JB por mais de 30 anos.
Sua fantástica carreira no jornal começou em 1956, convidado por Odylo Costa Filho, diretor de redação que transformaria o jornal em um dos mais importantes diários da história do país. Villas-Bôas criou a coluna Coisas da Política, para a qual escreveu até 2011, já na versão online do jornal.
Na época de sua aposentadoria, em 78, Villas-Bôas até tentou ir para sua casa em Nova Friburgo, onde queria criar galinhas. Essa vontade não durou seis meses. No mesmo ano voltou ao JB para editar a área de política do jornal. Não saiu mais.
O jornalista ficaria conhecido por não ter papas na língua. Seu trabalho, que chegava aos seus leitores através de seu primoroso texto, seria a maior referência do jornalismo político, imitado por muitos profissionais das gerações seguintes.
Sempre foi defensor da necessidade do debate de diferentes pontos de vista na política e da liberdade de ideias. “Nunca acatei uma orientação editorial que fosse em nenhuma coluna minha. Sempre disse o que quis. Não por vaidade ou por reivindicação, mas para sempre poder dizer algo novo, algo no calor da hora.”
O homem viu de tudo: Getúlio, Café Filho, JK, Jânio, Jango, o golpe militar, Figueiredo, Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma. Villas-Bôas foi um privilegiado e experiente observador da cena política nacional. Suas análises sempre foram claras e relevantes ao momento político nos quais elas foram publicadas, seus textos de leitura obrigatória.
“Mais do que um jornalista, Villas-Bôas Corrêa é um missionário do jornalismo que iniciou a carreira ainda na primeira metade do século passado. Não é preciso concordar com tudo o que ele escreve para reconhecer que sua competência o torna respeitado e confere grande peso a suas opiniões. Villas-Bôas é um patrimônio do país, um arquivo vivo dos últimos 60 anos da História da política e dos políticos do Brasil”, disse o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em nota ao JB, em 2008.