CPI: melhor não ser tudo do que não ser já

Por Fernando Brito, editor do TIJOLAÇO

CPI, em tese, faz uma investigação técnica.

Na prática e na essência, porém, ela é um órgão político e o grande mérito da CPI da Pandemia foi o de formar uma maioria – o chamado G-7 – disposta a responsabilizar o governo Bolsonaro pelas omissões criminosas e pelo charlatanismo motivado por interesses durante o falho combate ao coronavírus no Brasil.

Faz tempo que isso está estabelecido e materializado em provas e que as audiências só o que acrescentam é a revelação de “horrores paralelos”, como é o caso da Prevent Sênior, cuja apuração já extrapolou as responsabilidades do Senado.

Os crimes de genocídio de indígenas ou de homicídio qualificado, estava claro, não alcançariam a unanimidade dentro do grupo que dirige a Comissão e foi um erro impensável para alguém com a experiência de Renan Calheiros imaginar que bastaria que ele avançasse com a proposta de indiciamento de Jair Bolsonaro para que isso se consumasse.

Até porque a CPI não é o fecho de um processo de apuração criminal, mas o princípio e, por óbvio, o início é menor do que o fim.

Muito mais importante que se apontar responsabilidades do atual presidente em 9 ou em 11 crimes é que possa persistir a unidade essencial da CPI em responsabilizá-lo pela barbárie que aqui se passou.

E essa unidade sofreu, na última semana, um princípio de desagregação do qual se valerá o governismo para desqualificá-la. E trabalham por isso, estimulando vaidades e apetites que, é claro, não faltam entre os integrantes da Comissão.

É correta a observação de Elio Gaspari, em sua coluna de hoje:

A busca dos estrondos poderá envenenar as conclusões da CPI. Mais valerá uma denúncia baseada em fatos apurados do que uma acusação que se desmanchará no ar. Os senadores tiveram nas mãos o óbvio ululante que, por ululante, pode parecer pouco. Todo mundo tem direito a 15 minutos de fama. A CPI deu aos seus integrantes 15 semanas e todo mundo ganhou com isso. Não há motivo para exagerar.

Não, não há mesmo, porque o exagero é outro: as mais de 600 mil mortes que abalaram o país e que dá à culpa sobre este morticínio mais peso e gravidade do que o dolo na morte de poucos.

É menos importante que se qualifique Jair Bolsonaro na letra fria de artigos e incisos que lhe enquadrem como genocida do que, perante o julgamento da população pelas suas ações e omissões criminosas ele tenha sido o que é: o responsável pela morte de dezenas e até centenas de milhares de pessoas.

Portanto, um genocida.

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