Antes de Carlos Bolsonaro, Lava Jato negociou Pegasus para espionar Lula

Roberson Pozzobon, Julio Noronha e Deltan Dallagnol, da Lava Jato (Reprodução)

Por Plinio Teodoro/Revista Fórum

Antes de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) atuar nos bastidores para compra do sistema de espionagem israelense Pégasus para criar uma “Abin paralela”, procuradores da Lava Jato negociaram diretamente a compra do software com a empresa NSO para o “banker” que seria montado para espionar o ex-presidente Lula.

Reportagem de Jamil Chade no portal Uol revela que a defesa do ex-presidente está entrando nesta segunda-feira (26) com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para que os procuradores da Lava Jato sejam investigados por criarem um sistema de espionagem cibernética clandestina.

A peça jurídica, baseada em conversas em grupos de whatsapp obtidas pela Operação Spoofing, mostra que em 31 de janeiro de 2018, o procurador Júlio Carlos Motta Noronha afirma que “FT-RJ (Força Tarefa do Rio de Janeiro) se reuniu hj com uma outra empresa de Israel, com solução tecnológica super avançada para investigações”.

“A solução ‘invade’ celulares em tempo real (permite ver a localização,etc.). Eles disseram q ficaram impressionados com a solução, coisa de outro mundo. Há problemas, como o custo, e óbices jurídicos a todas as funcionalidades (ex.: abrir o microfone para ouvir em tempo real). De toda forma, o representante da empresa estará aqui em CWB, e marcamos 17h para vir aqui. Quem puder participar da reunião, será ótimo! (Inclusive serve para ver o q podem/devem estar fazendo com os nossos celulares)”, afirma o procurador, que diz ainda ter “dificuldades filosóficas” sobre o sistema de espionagem.

“Confesso que tenho dificuldades filosóficas com essa funcionalidade (abrir microfone em tempo real, filmar o cara na intimidade de sua casa fazendo sei lá o quê, em nome da investigação). Resquícios de meus estudos de direitos humanos v. combate ao terrorismo em Londres.”

Lula
Na ação, a defesa de Lula lembra que em 2017 a Lava Jato tinha “a intenção de criar um ‘bunker’ no gabinete do procurador da República Deltan Dallagnol”.

“Esse ‘bunker’ envolvia justamente a aquisição de softwares de espionagem cirbernética, como é o caso do israelense Cellebrite, e outros sistemas que permitiriam viabilizar a criação de um “big data” no gabinete do citado membro do MPF”, dizem os advogados de Lula.

E-mails
Na reportagem, Jamil Chade revela que entre março de 2018 e o início de 2019 – período que coincide com a pré-campanha eleitoral – Júlio Noronha trocou e-mails com a empresa NSO Group negociando a compra do Pégasus, que seria feito com dinheiro de multas aplicadas pela Lava Jato.

Um dos e-mails, de março de 2018, enviado pela NSO tem o título “PEGASUS” e diz que algumas “funcionalidades” do sistema seriam incluídas na “versão 3.0” da ferramenta após observações feitas por integrantes do Ministério Público em conversas anteriores.

Segundo o jornalista, alguns e-mails foram encaminhados “com cópia” ao procurador Roberson Pozzobon, um dos braços direitos de Deltan Dallagnol, então chefe da Lava Jato em Curitiba.

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