Blog do Ed Wilson Araújo
Todos os brasileiros estão comovidos diante da tragédia com os jogadores de futebol, jornalistas e as outras pessoas que perderam a vida em um acidente aéreo.
Pelos critérios de noticiabilidade (quantidade e qualidade dos envolvidos), expectativa de um título internacional pela Chapecoense e outras singularidades, é óbvio que a atenção da mídia tenha ênfase nesse fato.
Além da comoção, porque vidas foram ceifadas, a alta taxa de informação do episódio justifica a cobertura dos meios de comunicação sobre a tragédia.
Porém, nesse mesmo dia, centenas de pessoas estavam concentradas em Brasília, combatendo a votação da PEC 55 em primeiro turno, no Senado.
Pela quantidade e qualidade dos envolvidos, o fato merecia cobertura, porque se trata de um tema relevante à coletividade – o teto de gastos públicos previsto na PEC 55.
Além desse critério, os manifestantes foram reprimidos, houve carros queimados e utilização de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para massacrar os manifestantes.
Essas singularidades também acrescentam interesse ao fato, com um detalhe: a suspeita de que os atos de vandalismo foram provocados por pessoas infiltradas entre os manifestantes, que pretendiam uma pressão pacífica.
Diante da emergência de dois fatos, um mais e outro menos relevante, é inadmissível que a grande parte dos meios de comunicação tenha praticamente ignorado as manifestações.
A cobertura da votação da PEC 55, no geral, restringiu-se ao plenário, onde os senadores, liderados por Renan Calheiros (PMDB) e Romero Jucá (PMDB), passaram o trator na votação.
Mais grave: a votação ocorreu no plenário com as galerias vazias. O Senado não permitiu o acesso dos manifestantes ao espaço reservado às pessoas que desejassem acompanhar a votação.
Este 29 de novembro vai entrar para a História como o dia do vazio.
O vazio pelas mortes no acidente aéreo.
O vazio das galerias do Senado.
O vazio da cobertura jornalística, que deletou os protestos e a violência.