A negra de ouro e o ippon na intolerância

Por Robson Paz
DSC_8373-O Brasil viveu na última semana seu momento mais sublime até aqui nos jogos olímpicos do Rio: a conquista da medalha de ouro pela judoca Rafaela Silva.
A vitória consagradora mostrou a face de um Brasil que apesar das adversidades é capaz de enfrentar e superar desafios. Conquistar o mais alto do pódio foi ainda mais emblemático, depois do desabafo da atleta negra, da periferia, vítima de preconceito racial, após os jogos olímpicos de Londres, 2012. Certeiro golpe na intolerância, pois colocou no centro das atenções a onda de preconceito e fascismo existente, nestes dias.
Após a derrota, em 2012, a judoca da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, teve que suportar o revés no esporte e a dor que calou na alma com a desumanidade daqueles que a desrespeitaram de forma racista e vil.
Detratores que Rafaela respondeu com trabalho, dedicação, altivez e resultado. Contudo, a luta contra a intolerância no país está longe de ser finalizada e deve ser permanente.
Pouco depois da vitória da judoca brasileira, os intolerantes, desalmados e sem coração atacaram a nadadora Joana Maranhão, após esta não lograr êxito na competição. A motivação seria posicionamento político da atleta. Escondidos no anonimato das redes praticaram atos execráveis a ponto de fazer apologia à violência sexual. Numa referência ao abuso sofrido pela atleta na infância.
Atletas, artistas e outras personalidades são a face mais visível das vítimas diárias de comportamento reacionário, pueril, conservador, que ganhou amplitude com o advento das redes sociais e infelizmente está impregnado em parte da população. Atitudes que reiteram pensamento do filósofo italiano Umberto Eco: “as redes deram voz a uma legião de imbecis”. “Antes, eles estavam restritos aos bares e não prejudicavam a coletividade”.
Há um Brasil que parece ainda não se libertou dos tempos da escravidão. Ignoram a realidade do país, cuja maioria da população é negra. Nem os 54% de negros, os fazem desistir de tratar o país como a casa grande e a senzala.
E se não mais podem escravizar os negros praticam toda sorte de preconceitos racial, de gênero, religioso e social.
Nosso país é belo e único entre outras características por sua pluralidade de raças, pacifismo, respeito às diferenças. Reconhecer a força, o talento e a importância dos negros e da população de baixa renda na construção de nosso país é valorizar nossa própria existência. Foi assim que tivemos ascensão social de parte dos mais pobres, nas últimas décadas.
Respeito é o mínimo que se espera aos silvas, gente do povo, conquistadores de feitos inimagináveis que legam ao Brasil reconhecimento nacional e internacional. Que a experiência de sediarmos as olimpíadas e o espírito de união e fraternidade entre os povos contagiem nosso país. Precisamos dar um Ippon na intolerância.

Robson Paz – Radialista, jornalista. Subsecretário de Comunicação Social e Assuntos Políticos

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