O futuro do PR: engolir a saída para a crise ou pedir para sair




Matheus Pichonelli
Carta Capital

A esperada rebelião do Partido da República diante da crise no Ministério dos Transportes, área de influência da sigla desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva, parece ter ficado só na conversa até o momento.
Acuada pelas denúncias envolvendo o presidente nacional da legenda, Alfredo Nascimento (PR-AM), no tempo em que esteve à frente da pasta, e sob risco de ficar sem assento no governo federal, a bancada do partido – o mesmo que levou à Câmara o palhaço Tiririca – já dá sinais de ter engolido a solução caseira encontrada pela presidenta Dilma Rousseff para tentar colocar fim na crise.
Assim, o ex-secretário Paulo Sergio de Oliveira Passos, baiano de 60 anos e servidor público desde 1973, reassume o mais alto posto do ministério, após atuar interinamente na função em duas ocasiões – no ano passado, quando Nascimento disputou as eleições para governador do Amazonas, e agora, com a queda do titular.
Com o decreto oficial, publicado nesta terça-feira 12, sobre a nomeação de Passos, Dilma coloca no posto um ministro técnico e funcionário de carreira – embora filiado ao PR –, com o seu perfil. A decisão foi tomada após o senador Blairo Maggi (PR-MT), padrinho da indicação de Luiz Antônio Pagot no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – e pivô das suspeitas de superfaturamento nas estradas do País – se dizer impedido de assumir o posto, já que possui empresas que atuam na área de navegação, e que precisam de recorrentes autorizações do ministério para atuar.
Feita a escolha, Dilma testará agora o potencial que a possível rebelião numa bancada de 40 deputados e agora sete senadores – entre eles, o alvejado Alfredo Nascimento – poderá causar.
Logo após o anúncio da decisão, líderes do PR foram a público se queixar de terem sido deixados de lado das conversas que definiram o futuro da legenda.
Mas, a depender da cautela adotada antes do anúncio, é possível apostar que a rebelião não passe de um balão de ensaio a uma legenda que corre o risco de sair da crise arranhada, e ainda sem qualquer posto de destaque num governo com o qual está alinhado desde 2002, quando o então PL aceitou indicar o candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva – isso apesar do burburinho sobre um realinhamento do partido em relação ao governo, sugerido por Blairo Maggi.
Na semana passada, o partido deixou claro que Dilma não seria contrariada caso tomasse a decisão de seu jeito. Foi o que fez o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela, ao dizer que o partido não colocaria a faca no peito da presidenta.
Pois na segunda-feira, mesmo dia em que Dilma nomeou o ministro à revelia dos caciques do PR, o próprio secretário-geral do PR, deputado Valdemar Costa Neto (SP), um dos réus no processo sobre o mensalão, assinou uma nota negando que um “movimento interno”, capitaneado por ele, ameaçava abandonar o barco governista. “Costa Neto reitera sua confiança no governo da presidente Dilma e reafirma a posição governista de seu partido”, disse. Justo ele, de quem, conta-se no Planalto, a presidenta mal pode ouvir falar.
Se o discurso vai prevalecer, ou se o partido fará a partir de agora companhia a tucanos, demos e pepeessistas no Congresso, é algo ainda a se conferir.
Depoimento– Apesar do esforço para conter a crise, a temperatura no Planalto ainda será medida nesta terça-feira com o depoimento, nas comissões de Infraestrutura e de Meio Ambiente do Senado, do diretor-geral afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot. Os senadores querem explicações sobre as denúncias de superfaturamento em contratos e esquema de cobrança de propina no órgão.
A oposição quer cobrar do secretário do Dnit nomes e responsabilidades nos processos de licitações apontados como irregulares.
O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) espera que Pagot aponte a forma como o órgão vinculado ao Ministério dos Transportes atua e faça uma exposição técnica sobre as denúncias de corrupção. “Ele tem condições de mostrar o trabalho feito pelo Dnit e rebater as acusações”, destacou Jucá.
Pagot, no entanto, refutou todas as denúncias veiculadas pela imprensa. Segundo ele, 20% dos gastos são vinculados a exigências de licitações. Ele sofreu ataques de diversos parlamentares e negou todas acusações.
“O Dnit não é um feudo do PR”, afirmou. “Empresas com maior volume de obras podem vir a ter aditivos”, disse, ao negar que empresas que financiaram campanha teriam recebido aditivos do departamento. Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que não admitir superfaturamento nas obras do Dnit é subestimar a inteligência.
Com informações da Agência Brasil

Foto 1: O senador Magno Malta, à sombra de Blairo Maggi, durante entrevista
Foto 2: O ex-ministro Alfredo Nascimento, que caiu após denúncias
Foto 3: Luiz Antônio Pagot diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) explica sua atuação. Foto: Marcia Kalume/Agência Senado

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