Caros Amigos no mito direitista

Caros amigos, edição nas bancas, endossa o mito direitista de que “Lula governa, mas quem manda é Sarney”.Seria um baita elogio a Sarney, se fosse verdade. Significaria creditar-lhe o crescimento econômico “sustentável”, a recuperação das reservas, a distribuição da renda, a elevação real do salário mínimo, a relativa distensão social. E mais: deveríamos agradecer a Sarney por ter posto um freio na desestatização e na desnacionalização da economia, por haver fortalecido o mercado interno, preservado e robustecido o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES e tudo isso que agora nos permite encarar sem medo a crise que adoece os EUA e outros que embarcaram na “desregulamentação” sem critério.Grampo vazadoSarney manda tanto no governo Lula que a Polícia Federal grampeou os telefones do filho dele, com ordem judicial, descobriu indícios de “organização criminosa” e, suspeita-se, vazou o conteúdo das gravações — certamente sem ordem judicial. A PF diz que foram os próprios advogados de Fernando Sarney, depois que o TRF lhes deu acesso indevido ao inquérito. Mas como explicar que os advogados tenham recebido a parte do grampo que, como nos esclarece o ministro Tarso Genro, nem está no inquérito?Já nos tempos de Fernando Henrique a PF só interessou pelo cofre da Lunus quando se tratou de tirar Roseana do caminho do presidenciável tucano José Serra.Alca e AlcântaraManda tanto, o atual presidente do Senado, que a Venezuela está prestes a ingressar no Mercosul e o Brasil mais longe do que nunca da Alca, exatamente o contrário do que sucederia se Serra fosse o presidente. Ou se o próprio Sarney decidisse, pelo menos quanto à Venezuela. (Ele ainda vai tentar bloquear a ampliação do Mercosul no Senado, mas não é provável que consiga, embora a parada seja dura). Fosse Lula o pau-mandado ou o presidente fraco que a direita pretende, a tragédia de 22 de agosto de 2003 teria levado o Brasil a finalmente celebrar o acordo neocolonial que Sarney e os tucanos pretendiam para a base de Alcântara. Mas o que Lula fez foi buscar na Ucrânia parceria não-hegemônica e menos avessa à transferência de tecnologia. Depois o governo Lula vacilou com essa questão dos quilombolas, mas isso nada tem a ver com EUA, salvo porque agrada a Washington que nosso programa espacial seja estorvado.Um olho sóA afirmação “Lula governa, Sarney manda” é do brilhante jornalista Palmério Dória, meu colega e conterrâneo de Belém do Pará. Cujo artigo em Caros Amigos fala do Maranhão e das mazelas sarneístas sem fazer a mínima alusão ao fato de que o atual governador do estado, Jackson Lago, foi eleito com base num esquema de mais de R$ 700 milhões de convênios caça-voto e engorda-rato e uma corrupção midiática provada e documentada. Como se Jackson não fosse o campeão nacional do nepotismo, da dispensa de licitação, da publicidade enganosa e inconstitucional e, digamos de uma vez, de vasta e incontrolável corrupção.Ameaça comumFalta apenas dizer que se Fernando Sarney um dia for preso por formação de quadrilha, como deseja a Polícia Federal, pode ocorrer que seja recepcionado por Jackson nalgum pavilhão especialmente reservado a cavalheiros ilustres.O processo do governador é mais antigo que o de Fernando (que ainda está na fase policial). Ele, o irmão Wagner, os sobrinhos Alexandre e Paulo Lago e outras pessoas gradas do esquema no poder, inclusive o ex-governador José Reinaldo, patrono da eleição de Jackson, foram denunciados pela Procuradoria Geral da República como envolvidos nos crimes contra o erário apurados na Operação Navalha (bando Gautama).Basta Jackson ser cassado para que o processo — interrompido quanto a ele pela Assembleia sempre submissa da oliligarquia maranhense — caia-lhe na cabeça, como já pesa na dos outros.Nada disso aparece no texto de Caros Amigos, que trata o Maranhão como se fosse uma fazenda da família Sarney. Na qual, quem sabe, Lagos roubam porque são valentes Robin Hoods que um dia haverão de dividir o saque com os pobres.

Walter Rodrigues 16:40 – segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *