Ana Jansen: A Pré-História da Caema assombra o Italuís

O Italuís nos tempos de Ricardo Murad

Ed Wilson Araújo – Quando o governador Flávio Dino (PCdoB) sugeriu a hipótese de sabotagem na entrega da obra de duplicação do Italuís, logo me veio à mente a personagem Ana Jansen.

Ela faz parte da pré-história da Caema, contada em fatos e lendas. Considerada a Rainha do Maranhão, a poderosa líder política Ana Jansen detinha o monopólio da água no século XIX.

O empreendimento consistia na venda de água em carroças puxadas a burro, um lucrativo negócio tocado por um exército de escravos que transportavam o líquido pelas ruas de São Luís.

Por volta de 1850, o Governo da Província autorizou a criação da Companhia de Águas do Rio Anil, concorrente no mercado de recursos hídricos controlado por Ana Jansen.

Famosa pelas perversidades contra os adversários, ela teria mandado colocar gatos mortos e apodrecidos nos depósitos do concorrente, espalhando a notícia da contaminação na água do rival.

A sabotagem funcionou e a Companhia de Águas do Rio Anil, faliu.

O Italuís a caminho da duplicação

Nos últimos 50 anos, atravessando os séculos XX e XXI, as companhias de água e de energia (Cemar), assim como todos os outros serviços e empresas públicas e privadas no Maranhão, ficaram sob o controle da família liderada por José Sarney.

A Companhia de Águas e Esgotos, transformada em Companhia de Saneamento Ambiental (Caema), serviu para enriquecer muitos políticos de variadas tendências e grupos.

Em retrospecto, essa é a realidade concreta:

1 – Há uma herança maldita no Maranhão que não é fácil consertar;

2 – A Caema foi historicamente sucateada;

3 – E o governo Flávio Dino (PCdoB), na pressa de mostrar resultados, acabou atropelando prazos e a pressão da água vazou para a política;

Sobrevivente de vários processos de sucateamento e corrupção, a Caema estava em boas mãos, sob a direção do advogado Davi Telles, que vinha reestruturando a gestão da empresa.

Nova adutora rompida passa por reparos

Ocorre que, por força dos acordos eleitorais da coalizão que elegeu Flávio Dino, a Caema teve de ser entregue ao deputado federal Weverton Rocha, o proprietário do PDT e candidato a senador, oficializado na chapa da reeleição do governador em 2018.

Davi Telles foi substituído por Carlos Rogério Araújo, ex-titular da SMTT (Secretaria de Trânsito e Transporte) da Prefeitura de São Luís, controlada pelo núcleo duro do PDT há 31 anos.

Pode ter sido aí a mudança de rumo na Caema: da água para o vinho, esta bebida que embrigada ainda mais os ambiciosos.

Retomando o capítulo da herança maldita, cabe mencionar a gestão de Ricardo Murad (PMDB), ex-super secretário de Roseana Sarney (PMDB), quando a Caema atingiu o fundo do poço.

Era a época dos canos enferrujados e dos constantes rompimentos que deixavam a população de São Luís semanas inteiras sem água.

Foi assim até que o Italuis ganhou as páginas dos jornais pelas relações perigosas do governo Roseana Sarney com o doleiro Alberto Youssef e as empreiteiras investigadas na operação Lava Jato.

No capítulo das empreiteiras, o pior ainda estava por vir. No auge da Lava Jato, cravejada de denúncias por desvio de dinheiro público, a Odebrehct, através da subsidiária Odebrecht Ambiental, começou a privatizar o sistema de abastecimento de água em várias prefeituras do Maranhão, através de contratos viciados, segundo denúncias do Sindicato dos Urbanitários.

Na região metropolitana de São Luís, os municípios de São José de Ribamar e Paço do Lumiar celebraram contratos com a Odebrecht Ambiental, atropelando os rituais básicos de elaboração dos planos de saneamento.

As licitações também foram viciadas, “praticamente sem concorrência”, denunciou o presidente do sindicato, José do Carmo Castro.

Segundo a entidade sindical, os vícios nos contratos tiveram a conivência das prefeituras e câmaras de vereadores, que operam os interesses do negócio bilionário da água no Maranhão.

O principal impacto da privatização é o aumento da conta de água dos usuários e ampliação da quantidade de serviços cobrados da população.

As contas de água já tiveram aumentos. Em São José de Ribamar e Paço do Lumiar, por exemplo, a população começou a reclamar das tarifas abusivas, majoradas em até 48,2% e 96,5%, respectivamente.

O bilionário comércio de água no Maranhão já chegou também nos municípios de Santa Inês e Timon.

Os contratos de privatização estendem-se por até 30 anos e miram apenas a zona urbana dos grandes municípios, ou seja, o “filé” do mercado da água.

Estrangulada na Lava Jato, a Odebrecht Ambiental foi vendida para a multinacional Brookfield Business Partners LP, a BRK, nova dona da água nos municípios contratados.

Eis um resumo do que vem a ser a “guerra” da água no Maranhão.

Em que pese a troca de comando na Caema, não há como negar que o governo atual está determinado a ampliar a oferta de água e melhorar as condições de saneamento no Maranhão.

Há muitas diferenças entre Flávio Dino e Ricardo Murad, que lançou hoje sua candidatura ao governo, com mais fome de dinheiro e poder do que nunca.

Tudo pode acontecer no Maranhão, mas eu não quero crer no fantasma de Ana Jansen assombrando o Italuís e o Palácio dos Leões.

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