Após Cunha ser preso, deputados especulam sobre delação e prisão de Lula

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

André Dusek/Estadão Conteúdo

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Cunha (de paletó) é acompanhado por policiais no hangar da Polícia Federal em Brasília

A prisão do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nesta quarta-feira (19) trouxe à tona entre os deputados outros dois temas considerados explosivos para a política em Brasília: a possibilidade de com a prisão Cunha firmar um acordo de delação premiada e a especulação de que a prisão do peemedebista antecederia uma ordem de prisão do juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também réu em processo da Operação Lava Jato.

Para o líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), uma eventual delação de Cunha poderia “derrubar” o governo do presidente Michel Temer.

“A delação premiada dele derruba o governo Temer e causa uma imensa turbulência na Câmara, porque ele detinha 200 deputados na mão, gente que ele financiou, que ele cooptou, que ele chantageou”, diz. “Existe um tremor, seja no governo, seja no Congresso Nacional. A prisão dele e uma possível delação causa uma turbulência muito forte aqui [na Câmara]”, afirma Valente.

Cunha e seus advogados têm negado a possibilidade de realizar um acordo de delação premiada.

“Se ele tem algo a revelar, acho bom que o faça. É preciso tirar debaixo do tapete muita coisa que estava escondida. Acho que é um bom momento”, disse o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que foi relator do processo de cassação de Cunha.

Um dos principais aliados de Cunha na Câmara, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) disse não ter informações sobre se o peemedebista poderá fazer um acordo de delação. Segundo ele, antes de ser preso, o peemedebista falava que não delataria. “Não dá para falar sobre isso. É uma questão de cada um. Depende da família também”, disse o parlamentar, que é presidente do Solidariedade.

Outro aliado de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) afirmou que Cunha negou a ele recentemente a possibilidade de fazer delação. “Falei com ele pessoalmente no dia 13 de setembro, dia seguinte à cassação que aconteceu no dia 12. De lá para cá, troquei rápidas palavras com ele por telefone e ele nunca falou em fazer delação ou qualquer coisa a respeito”, disse.

Prisão de Lula

A prisão do ex-deputado do PMDB levou opositores do PT a cogitarem que uma ordem de prisão contra o ex-presidente Lula expedida pelo juiz Sergio Moro seria um dos próximos passos da Lava Jato.

O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), disse que, com a prisão de Cunha, o próximo poderá ser o ex-presidente Lula. “Se for na tese do PT (de prender Cunha primeiro), o caminho está aberto e as portas de Curitiba estão abertas para Lula”, afirmou.

O presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR), manifestou opinião semelhante.

“Eu não li a decisão [da prisão de Cunha]. Mas isso sinaliza que daqui a pouco vai o Lula também, pelo andar da carruagem”, afirmou Serraglio.

O deputado do PMDB foi escolhido presidente da CCJ para o ano legislativo de 2016 por articulação de Cunha, quando o peemedebista ainda era presidente da Câmara. O parlamentar conseguiu o posto após fazer acordo com Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), que também queria ser presidente da comissão.

Para Ivan Valente, do PSOL, a Lava Jato não pode ter “direcionamento” político e as provas contra Cunha são mais robustas que as suspeitas apontadas contra o ex-presidente Lula.

“Se há provas materiais contra presidente Lula, então ele pode até ser preso, mas desde que haja provas muito consistentes, no caso do cunha são evidentes. Eu não vejo o mesmo nível de consistência para equiparar as duas denúncias”, disse Valente. “Se juiz Sergio Moro decretou a prisão de Cunha apenas para criar uma aparência de equidade, então não é uma ação positiva”, afirmou o líder do PSOL.

O deputado do PT Henrique Fontana (RS) defendeu a inocência de Lula e afirmou não ver motivos para a prisão do ex-presidente, “Só pode prender quem cometeu crimes. As pessoas que não gostam do Lula podem se expressar numa eleição mas não podem querer fazer Justiça com as próprias mãos. Justiça com as próprias mãos nos leva à barbárie”, disse.

 

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